JOHN LURIE, CHINESE GOOD-LUCK HORSE, 2006, 30,5 x 40,6 cm, aguarela, óleo pastel sobre papel
Num concerto que correspondeu inteiramente às expectativas, o único senão terá sido o tempo e o modo da sua gestão e organização interna
Para quem jamais tenha ouvido falar da ligação de John Lurie às diversas áreas da expressão cinematográfica ou mesmo da dança, sem dúvida que a audição da maioria dos temas que o saxofonista apresentou na terça-feira passada [20.04.99] no Centro Cultural de Belém terá ajudado a fazer luz sobre determinados aspectos essenciais da sua escrita.
Com efeito, muito mais do que «música pura», a sensação quase constante que o ouvinte experimenta é a de estar em presença de «música de cena» ou de «música programática», com frequência suscitando a (ou suscitada pela) associação a imagens que se formam (ou a movimentos de corpos cuja evolução se adivinha), como se de uma gigantesca e multiforme banda sonora se tratasse.
Por isso mesmo, um segundo aspecto da concepção musical de Lurie – e que, porventura, terá surpreendido quem o antecipasse como cultor de uma modernidade assente nas explosões e transgressões mais aleatórias – é também, o lado altamente organizado que ele transmite à sua música e dos seus pares.
Por um lado, dando sempre a impressão de que as coisas se vão organizando ao sabor da inspiração de momento (ou até da maior ou menor receptividade interactiva do receptor último da performance) mas, no fundo, meticulosamente orientando a evolução dos acontecimentos musicais em função de um plano preestabelecido nas suas grandes linhas.
JOHN LURIE, MAN'S HANDS HAVE TURNED INTO FORKS. DON'T TRUST HIM, 2005. 30,5 x 22,9 cm., aguarela, tinta sobre papel
Nesse sentido, assaltou por vezes o crítico a impressão de que nem sempre John Lurie avaliou da melhor maneira a dose e a extensão da produção de «informação» musical, correspondente no tempo e no espaço a esse plano prévio, sobretudo porque a sua própria absorção (através da monição de palco) da música que ia sendo criada terá sido, porventura, qualitativamente diversa daquela que a amplificação impunha ao ouvinte do lado de cá da cena, quiçá mais submergido pelos aspectos quantitativos dessa absorção.
Uma música que, para além das etiquetas que lhe têm sido apostas – free-funk, post-funk, fake, rock, punk-rock, underground, no wave e outras que tais – se distinguiu por uma surpreendente obsessão tonal a par de uma ampla diversidade das suas referências multiculturais, que vão das melopeias da África do Norte aos ritmos da América Latina, passando pelas evocações do cabaret da Europa central, mas que confluem numa expressão fortemente urbana e intelectual, típica da cena downtown nova-iorquina.
Uma música singular que, por exemplo, no plano instrumental e no caso do próprio John Lurie, curiosamente se afasta de forma resoluta do revivalismo free-jazz (à excepção de certas incursões pelo mundo naif de Albert Ayler) para se centrar, lá mais atrás, no saxofonismo «pós-moderno» de um... Frankie Trumbauer!
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